Feijão Cru Para Matar Ratos
Tem circulado na
internet um e-mail ensinando um suposto "veneno ecológico" para matar ratos, que
teria sido um método usado por criadores de pássaros para combater o os roedores
e supostamente abalizado pela Universidade Federal de
Pelotas/RS.
Pela receita
largamente divulgada pela rede, utilizava-se uma xícara de qualquer feijão cru
sem lavar, colocava-se em um multiprocessador ou liquidificador sem água e
triturava até virar uma farofinha bem fininha, mas sem virar totalmente
pó.
Em seguida
deveriam ser colocados em montinhos na proporção de uma colher de chá, nos
cantos próximos do chão, perto das portas, janelas e atrás de móveis e
eletrodomésticos. Os ratos comeriam e não podendo digerir o feijão cru sofreriam
um envenenamento natural por fermentação em até 3 dias. Segundo esses
sites:
“Ao contrário dos
tradicionais venenos (Racumim, por exemplo) o rato morre e não contamina animais
de estimação e por sua vez morrem por terem comido o rato envenenado. E a
quantidade de feijão que ele ingeriu e morreu é insuficiente para matar um cão
ou gato, mesmo porque estes gostam de MATAR pra comer...mas morto eles não
comem. Se tiver crianças pequenas (bebês) ainda em período de engatinhamento,
que colocam tudo na boca, não faz mal algum, pois o feijão para o ser humano,
mesmo cru é digerido. NÃO TEM CONTRA-INDICAÇÃO!”
Acontece que,
apesar de eu mesmo ter recomendado algumas vezes esse "tratamento" para quem
quer se livrar de ratos, pesquisando mais sobre isso na rede descobri que não é
bem assim... Embora realmente funncione.
O feijão cru seria tóxico para qualquer ser vivo, inclusive humanos, dependendo da dose. O Dr. Constancio de Carvalho Neto, Médico Veterinário Sanitarista e especialista em controle de pragas alerta para o perigo de se usar essa receita caseira para quem quer se livrar dos ratos em casa:
O feijão cru seria tóxico para qualquer ser vivo, inclusive humanos, dependendo da dose. O Dr. Constancio de Carvalho Neto, Médico Veterinário Sanitarista e especialista em controle de pragas alerta para o perigo de se usar essa receita caseira para quem quer se livrar dos ratos em casa:
“Provavelmente
devido minha especialidade profissional, controle de pragas e vetores, tenho
sido perguntado com frequência crescente (e preocupante) sobre o “inofensivo“
uso de feijão cru como raticida. Fatos e boatos circulam com velocidade
espantosa através da Internet e esse possível “novo” uso para o humilde feijão
nosso de cada dia, me tem sido inquirido quase que diariamente a partir dos mais
diversos pontos de nosso país.
Feijão cru tem
efeito raticida? Poderia ser usado inofensivamente para eliminar roedores sem
qualquer risco para humanos ou outros animais? É verdade ou é mentira?
Em 1994, portanto
há 14 anos atrás, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de
Pelotas/RS, FAEM / Depto. de Ciência e Tecnologia Agroindustrial, liderado pelo
Prof. Pedro Antunes, publicou um trabalho científico onde analisaram quatro
cultivares de feijão similares entre si comumente encontrados no comércio
brasileiro (Rico 23, Pirata 1, Rosinha G2 e Carioca).
Os pesquisadores
estudavam o valor nutricional desses cultivares e também os fatores
antinutricionais como a antitripsina e a lectina (duas substâncias tóxicas
existentes em todos os feijões). Nesse ensaio, ratos brancos de laboratório
(albinos da espécie Rattus norvegicus) foram submetidos a uma dieta exclusiva
desses cultivares de feijão cru e os pesquisadores apresentaram suas conclusões.
No entanto, todos os ratos do estudo morreram, aliás como seria de se esperar
dada à presença daquelas substâncias tóxicas no feijão cru e que são
neutralizadas durante o processo de cozimento, ao qual normalmente o feijão é
submetido antes do consumo.
Muito
recentemente, alguém leu esse trabalho e ao perceber que os ratos haviam
morrido, imediatamente imaginou que o feijão poderia ser usado como um
“raticida”. Pior que isso, esse alguém, sem nenhum conhecimento de causa,
prontamente tachou esse “método” de seguro e sem risco, pois raciocinou que se
nós humanos e outros animais comemos feijão e nada nos acontece de mal enquanto
os ratos comem e morrem, estaria aí uma solução simples e barata para o eterno
problema das infestações de roedores.
O Prof. Pedro
Antunes inquirido sobre essa versão apócrifa que circula na forma de post na
Internet, mostrou-se horrorizado com o desvio dado à sua pesquisa, segundo nos
conta o Médico Veterinário Ricardo Mathias que o entrevistou, pois a intenção
dos pesquisadores era o de demonstrar o efeito nocivo do feijão cru que
desaparecia quando o feijão era cozido.
Os fatores
antinutricionais existentes no feijão (também estão presentes em outras
leguminosas como a soja), a antitripsina e a lectina, atuam de forma danosa em
diferentes pontos do organismo, seja de um rato, seja de um cão ou seja mesmo de
um ser humano podendo levar à morte na dependência da quantidade ingerida. A
antitripsina atua inibindo a formação de diversas enzimas que participam do
processo de digestão nos mamíferos, incluindo a tripsina, as quais hidrolisam as
proteínas que ingerimos transformando-as em aminoácidos, para que possam ser
absorvidas pelo nosso organismo. Sua ação se dá ao nível do duodeno, a primeira
porção de nosso intestino logo depois do estômago. A falta de tripsina provoca
sérios problemas pancreáticos e mesmo pulmonares. Já a lectina, simplificando, é
uma proteína que, quando presente em mamíferos monogástricos (portanto
excluem-se os bovinos, os caprinos, os ovinos, etc), provoca aglutinação das
hemácias (formando pequenos coágulos) e assim provocando entupimentos de vasos
de menor calibre. Ora, os tais ratos do experimento foram submetidos a uma dieta
exclusiva e à vontade, constituída por feijão cru, onde estão presentes em altas
concentrações essas proteínas danosas (antitripsina e lectina) de curso mortal
para mamíferos monogástricos (que têm um só estômago). Só tinham que morrer
mesmo!
E por que não
sentimos nenhum problema quando comemos feijão? Porque no processo de cozimento
do feijão, essas proteínas danosas são destruídas podendo restar bem pouco, não
em quantidades suficientes para nos causar problemas. Contudo se ingeríssemos
feijão cru, especialmente na forma de farinha, certamente sofreríamos o mesmo
que se passou com os ratos do experimento.
De qualquer
forma, posso usar feijão cru para matar ratos? A rigor, pode. Contudo haveria um
primeiro grande problema a ser resolvido: convencer os ratos a comer feijão cru!
Eles detestam, e têm muitas boas razões para isso! A Natureza os ensinou a
evitar esse e outros grandes perigos. Por isso sobrevivem há tanto tempo. Outra
questão importantíssima: o risco envolvido. É perigoso sim! Crianças poderiam
por qualquer razão encontrar e ingerir esse feijão cru ou sua farinha! Cães e
gatos igualmente não se deixam convencer a fazer do feijão cru um alimento, mas
crianças...”
Além disso tudo,
haveria o grande problema de que a morte dos ratos se dariam somente após 14
dias e assim mesmo se eles só comerem feijão moído - o que é raro para um roedor
. Se deixarem de comer essa dieta ao longo desse tempo não
morrerão.
Ou seja: Para mim o que fica dessa história toda é que para usar feijão cru como raticida deve-se ter as mesmas precauções que se usa ao manipular os venenos mais comuns, como o popular “chumbinho”; ao misturar a farinha moída com outros tipos de alimento que sejam atraentes aos ratos e ter muito, mas muito cuidado mesmo para que os animais domésticos e as crianças da casa, se existirem, não encontrem e não consumam, além de tentar impedir que os "ratos, malditos ratos!" (parafraseando o gato Chuvisco da antiga série animada Plic, Ploc & Chuvisco) comam outras coisas. Fazer isso ou não, como tudo o mais na vida, fica por sua conta e risco.
Ou seja: Para mim o que fica dessa história toda é que para usar feijão cru como raticida deve-se ter as mesmas precauções que se usa ao manipular os venenos mais comuns, como o popular “chumbinho”; ao misturar a farinha moída com outros tipos de alimento que sejam atraentes aos ratos e ter muito, mas muito cuidado mesmo para que os animais domésticos e as crianças da casa, se existirem, não encontrem e não consumam, além de tentar impedir que os "ratos, malditos ratos!" (parafraseando o gato Chuvisco da antiga série animada Plic, Ploc & Chuvisco) comam outras coisas. Fazer isso ou não, como tudo o mais na vida, fica por sua conta e risco.
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