Publicado: 10/11/16 - 13h 13min
Atualizado: 16/11/16 - 19h 36min
Puskás, o ‘Major Galopante’ que brilhou na Europa, no Maracanã e no Pacaembu
Goleador húngaro ganhou ouro olímpico, bicampeonato europeu e Mundial pelo Real Madrid e, no Brasil, desafiou Fla e Bota. Morto há 10 anos, ele dá nome a troféu da Fifa
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08 de Junho de 1954, Geral, página 10
18 de Novembro de 2006, Esportes, página 50
05 de Julho de 1954, Esportes, página 4
04 de Fevereiro de 1957, Esportes, página 4
11 de Agosto de 1958, Geral, página 24
12 de Agosto de 1958, Geral, página 16
11 de Janeiro de 2009, Esportes, página 38
13 de Setembro de 2011, Esportes, página 4
17 de Julho de 2012, Esportes, página 4
18 de Janeiro de 2009, Esportes, página 42
22 de Abril de 1957, Geral, página 22
25 de Janeiro de 2009, Esportes, página 41
26 de Março de 2006, Esportes, página 55
28 de Janeiro de 1957, Esportes, página 2
Mônica Lessa e Fabio Ponso*
Jogador que dá nome ao prêmio de melhor gol do ano da Fifa
FOTOGALERIA

EM FOCO: PUSKÁS, MITO DO FUTEBOL
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, maior craque da história do futebol húngaro e um dos maiores de todos os tempos no mundo, Ferenc Purczeld Biró, que ficou conhecido como Puskás, nasceu no dia 2 de abril de 1927, em Budapeste. Sua ligação com o futebol vem do berço: seu pai era jogador do Kipest, equipe local, e Puskás o acompanhava, fazendo o papel de gandula. Com apenas 10 anos, ingressou nas divisões de base do clube e, em 1943, em plena Segunda Guerra, iniciou-se no profissional pelo Kipest, aos 16 anos. Dois anos depois, estreou na seleção em uma partida com a Áustria, marcando um gol. Seu tipo físico não era tão magro como o dos outros jogadores de futebol e, com 1,72m, era considerado baixo, mas Puskás tinha passes precisos, dribles curtos e secos e um chute primoroso de canhota.
No Kipest, Puskás foi titular durante 11 anos e capitão em 56 partidas. Em 1948, quebrou o recorde de gols do campeonato húngaro, balançando a rede 50 vezes. No ano seguinte, o atleta deu um salto em sua carreira: o exército húngaro decidiu ter seu time de futebol e associou-se ao Kipest, que, assim, passou a se chamar Honved. Com o poder do exército no regime comunista, o Honved se tornou rapidamente a equipe mais forte do país. O técnico Gusztáv Sebes garimpou jogadores e reuniu os melhores que encontrou, como Czibor, Kocsis e Budai, além do próprio Puskás, que tinha a patente de major. Com entrosamento perfeito, o histórico time húngaro, comandado pelo famoso canhoto, conquistou o ouro olímpico em Helsinque, em 1952.
No ano seguinte, a equipe quebrou uma das maiores escritas da história do futebol: os húngaros foram os primeiros não-britânicos a derrotar a Inglaterra em casa. Na ocasião, mais de 100 mil pessoas ocupavam as tribunas do Estádio de Wembley, o templo do futebol inglês, para assistir ao confronto entre as seleções da Inglaterra e da Hungria. O confronto, batizado pelos ingleses de “O jogo do século”, terminou com um placar elástico, de 6 a 3, para os húngaros, derrubando os até então imbatíveis ingleses. A atuação de Puskás encantou os adversários, que o apelidaram de “Major Galopante”.
A Hungria de Ferenc Puskás chegaria, assim, na condição de favorita ao título da Copa de 1954, na Suíça. Na estreia, 9 a 0 na Coreia do Sul, com dois gols seus. Depois, 8 a 3 na Alemanha Ocidental, que jogou com o time reserva. Nesse jogo, Puskás fez o dele, mas saiu de campo com uma grave lesão no tornozelo. No jogo seguinte, já pelas quartas-de-final, a Hungria jogou com o Brasil. Puskás não entrou em campo e, com poucas chances de voltar a jogar naquela Copa, viu do banco a vitória húngara por 4 a 2. A partida que eliminou o Brasil da Copa ficou conhecida como “a batalha de Berna”, pois a duelo entre as duas delegações foi do campo aos vestiários. Sem o seu maior craque, a Hungria também venceu o Uruguai na semifinal, repetindo o placar aplicado ao Brasil, chegando à decisão contra a Alemanha Ocidental.
Ainda com dores no tornozelo, Puskás fez questão de jogar a final do Mundial, e foi dele o gol que abriu o placar, logo aos 6 minutos. No entanto, a Alemanha conseguiu uma improvável virada e ganhou por 3 a 2, num feito batizado como o “Milagre de Berna”. Em 5 de julho de 1954, O GLOBO noticiou a vitória alemã com a manchete “Campeões do mundo os alemães – os teutos quebraram sensacionalmente o favoritismo dos húngaros”.
Dois anos depois, em 1956, uma revolta popular contra o domínio imposto pela União Soviética – a famosa Revolução Húngara, que lutava contra a política comunista que dominava o país, – afetou diretamente a carreira do jogador. A revolta instaurou um novo governo, tentando quebrar a aliança militar estabelecida pelos países socialistas após a Segunda Guerra. Mas o regime soviético não retirou suas forças da Hungria e decidiu suprimir o movimento, aumentando sua ocupação. Durante a sangrenta invasão soviética, o Honved estava em Viena, na Áustria, a caminho da Espanha, onde jogaria três dias depois com o Atletico de Bilbao pela Copa da Europa. Eliminada pelos espanhóis na partida de volta, a equipe se dispersou no exílio, pois jogadores como Puskás, Sándor Kocsis e Zoltán Czibor se recusaram a retornar ao país, em solidariedade à causa revolucionária.
Em 1957, Flamengo e Botafogo se uniram para convidar o time de Budapeste, então itinerante, para uma série de amistosos no Brasil. Mesmo com autorização negada pela Federação Húngara, o Honved embarcou para a América do Sul. O primeiro jogo, contra o Flamengo, no Maracanã, valeu o “Troféu Ponto Frio”, iniciativa de uma companhia varejista anunciante das principais emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Na ocasião, 114 mil pagantes, entre eles o presidente da República, Juscelino Kubitschek, e o prefeito do Distrito Federal, Francisco Negrão de Lima, viram o melhor time do mundo – com Grocsis, Lantos, Budai, Kocsis, Czibor e Puskás – perder para o rubro-negro por 6 a 4. Puskás marcou dois gols, o que não foi suficiente para evitar o triunfo do clube da Gávea, que contava em seu elenco com craques como Dida, Evaristo, Moacir e Henrique.
Dias depois, por iniciativa da companhia de cigarros Sudan e da Rádio Bandeirantes, foi promovida uma partida revanche entre o Honved e o Flamengo, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Na ocasião, já melhor adaptada ao Brasil, a equipe húngara venceu por 6 a 4, com um verdadeiro show de bola. Dos gols do Honved, que chegou a estar vencendo por 6 a 1, quatro foram marcados por Puskás. A partida foi notícia no GLOBO em 28 de janeiro de 1957, com o título “Revanche completa do Honved”.
Pouco depois, o Honved voltou ao Maracanã, desta vez para enfrentar o Botafogo, de Mané Garrincha. Com mais uma bela atuação, a equipe venceu o alvinegro carioca por 4 a 2, com um dos gols marcados por Puskás. Na sequência, foi realizada uma partida “tira-teima” contra o Flamengo, novamente no Pacaembu, com nova vitória húngara, desta vez por 3 a 2. A despedida de Puskás & cia do Brasil se deu em partida contra um combinado Flamengo-Botafogo, quando os húngaros amargaram um impiedoso placar de 6 a 2. Com a possibilidade de reunir na mesma equipe craques como Garrincha, Didi, Evaristo e Dida, os brasileiros não deram chance ao Honved. Mesmo assim, Puskás deixou sua marca mais uma vez, marcando os dois gols de sua equipe.
Ao fim da turnê internacional do Honved, o atleta, ainda revoltado com a invasão soviética na Hungria e com a perseguição do governo local, que pressionava a Fifa para que o clube fosse impedido de realizar partidas, desertou definitivamente, tomando o caminho da Espanha e se naturalizando espanhol. Era o fim do Honved e da grande seleção húngara, que Puskás deixava com a marca de 83 gols em 84 partidas, numa excelente média de 0,99 gols por jogo, nunca superada.
Contratado pelo Real Madrid, Ferenc Puskás defendeu o clube entre 1958 e 1966, formando um dos maiores ataques do futebol mundial, ao lado do craque argentino Di Stéfano, e ajudando o clube a conquistar o pentacampeonato espanhol (1961/62/63/64 e 65), o bicampeonato europeu (1959 e 1960) e um mundial de clubes (1960). Em 1962, defendeu a Espanha no mundial, tornando-se um dos poucos jogadores a terem disputado Copas do Mundo por dois países.
Puskás encerrou sua carreira como jogador em 30 de julho de 1967. Mas sentindo-se incapaz de abandonar o futebol, transformou-se em técnico e trabalhou na função até 1993. Neste período, passou por muitos clubes, como Hércules, Alavés e Murcia (Espanha), Colo Colo (Chile), AEK e Panathinaikos (Grécia) e Cerro Porteño (Paraguai), além da seleção da Arábia Saudita e da própria seleção húngara. Os títulos como técnico não foram muitos: dois campeonatos gregos e dois australianos, estes dois últimos pelo South Melbourne. Com a extinção da União Soviética, voltou a morar em Budapeste, na Hungria, recebendo a patente de coronel do exército nacional.
Ferenc Puskás morreu em 17 de novembro de 2006, aos 79 anos, em conseqüência do mal de Alzheimer. Na ocasião, não resistiu a uma pneumonia e a uma febre alta que causaram falência cardiovascular e respiratória. Seu legado no futebol, no entanto, vai perdurar por muitos anos. Desde 2009, a Fifa entrega o Troféu Ferenc Puskás ao autor do gol mais bonito do ano. O primeiro ganhador foi o português Cristiano Ronaldo, e dois brasileiros já receberam o prêmio: Neymar, em 2011, e Wendell Lira, em 2015.
* com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO

Milagre de Berna. Capitães Fritz Walter e Ferenc Puskás na final da Copa do Mundo de 1954, quando a Alemanha derrotou a Hungria por 3 a 2 04/07/1954 / Reprodução
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