sábado, 18 de outubro de 2014

CORRUPÇÃO SINDICAL - JUSTIÇA DO TRABALHO INTERVÉM NO SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS DO RIO DE JANEIRO


Justiça intervém no Sindicato dos Comérciários do Rio

Salário de diretores afastados superava R$ 50 mil mensais

por Cássia Almeida

18/10/2014 6:00

RIO - Às vésperas de completar 106 anos, o Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro está nas mãos de um interventor. Investigação que vem desde 2006 culminou com a destituição do presidente Otton Mata Roma, da família que há mais de 30 anos domina o sindicato, por liminar judicial em ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho. Antes de Otton, o presidente do sindicato era Luisant Mata Roma, que morreu em 2006. O sindicato representava cerca de 500 mil comerciários, mas somente 3.800 eram associados à entidade.

O juiz Marcelo Antonio de Oliveira Alves de Moura, da 19ª Vara do Trabalho, ordenou também o afastamento do vice-presidente Raimundo Ferreira Filho, do tesoureiro Juraci Vieira da Silva Junior e do secretário geral Gil Roberto da Silva e Castro. Os três primeiros recebiam salários de R$ 51.202,44 cada um. O secretário geral, R$ 30.308,39.

O sindicato também empregava duas irmãs de Otton Mata Roma, a mulher, a tia e a mãe do presidente, que recebiam entre R$ 8.023,60 e R$ 32.246,05. A família também foi afastada do sindicato. Com a retirada desses salários e de outros funcionários e diretores, a folha de pagamento da entidade foi reduzida em cerca de R$ 1 milhão mensais.

- Os diretores e os parentes (de Mata Roma), que não são poucos, foram afastados. Somente com a saída de dez pessoas, a folha foi diminuída em R$ 300 mil. O interventor vai convocar eleições em 90 dias. Queremos dar ampla divulgação para que os comerciários procurem o sindicato para que se eleja uma nova diretoria - afirmou o juiz Marcelo de Moura.

Cabe recurso à decisão judicial, mas nenhum dos diretores afastados foi encontrado para falar se vão recorrer do afastamento e para comentar as acusações, depois de procurados insistentemente em celulares e telefones residenciais.

SALÁRIOS SUPERARAM R$ 50 MIL

Segundo o procurador do Trabalho João Carlos Teixeira, um dos autores da ação civil pública, enquanto os salários superaram R$ 50 mil, o piso salarial dos comerciários se mantinha próximo do mínimo nacional:

- Os acordos não previam plano de saúde e nem tíquete refeição. Eles não são comerciários, não podem representar a classe. São empresários que utilizam o sindicato para benefício próprio. É abusivo e injusto. Eles eram escolhidos por aclamação. Alguém que ganha R$ 50 mil por mês não se identifica com um comerciário.

Otton Mata Roma, segundo a ação, era proprietário de duas empresas de táxi aéreo.

O sindicato, apesar da base grande de arrecadação com o Imposto Sindical de centenas de milhares de trabalhadores e da contribuição assistencial obrigatória de R$ 80 embutida nas convenções coletivas, está mergulhado em dívidas.

A Light já avisou que vai cortar a luz do sindicato na segunda-feira. O débito estaria em R$ 77 mil. Há dívidas com o INSS dos cerca de 300 funcionários do sindicato que tem filiais em Campo Grande, Barra, Méier. Eles ganham entre R$ 1.500 a R$ 2.500. Para a Receita Federal, a dívida estaria em cerca de R$ 45 milhões, de Imposto de Renda retido na fonte que não foi repassado para a Receita.

A liminar também torna indisponíveis todos os bens móveis e imóveis dos dirigentes afastados. Os parentes de Mata Roma foram afastados por 90 dias. A decisão judicial também impediu o acesso ao sindicato dos diretores que são réus da ação.

O desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho Aloysio Santos foi nomeado interventor.

Em setembro último, a diretoria da Sindicato dos Empregados do Comércio de Niterói, São Gonçalo e adjacências também foi acusada de irregularidade numa investigação da Delegacia Fazendária. Taxas pagas por lojistas para funcionar aos domingos e feriados teriam sido desviadas.

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