sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PETRARCA É MATRIZ - CAMÕES E OS DEMAIS FILIAIS

PETRARCA É MATRIZ - CAMÕES E OS DEMAIS FILIAIS

Acabo de ler "O Cancioneiro de Petrarca", com tradução, introdução e notas de Jamil Almansur Haddad.
 
Descubro que os grandes poetas portugueses: Francisco Sá  Miranda, Antonio Ferreira, Luiz de Camões que tanto nos encatam, abeberam-se em Francesco Petrarca, poeta italiano que viveu na transição da Idade Média para o Renascimento.
 
Sá Mirando foi à Itália e conviveu com Petrarca e com ele aprendeu a teorizar sobre o amor e cantá-lo em versos. Petrarca, segundo Jamil, deixou não apenas o legado da forma lírica de cantar o amor - o soneto -, mas transmitiu-nos o seu conteúdo e essencia, deu-lhe espírito, uma concepção filosófica do amor, como ideal feminino. Foi capaz de divinizar a mulher e conciliar o ético e o erótico, o sagrado e o profano.
 
Teófilo Braga, ensina que o lirismo chegara a Portugal, como irradiação da doce península itálica. A poesia lírica portuguesa é rebento das entranhas da Itália, é leite mamado nos seus peitos divinos. Glória, pois, à Itália jovem e eterna, mas de doçura, deus prolífica, manancial inexauto da inefável poesia cujos acentos de dor e acalanto ela fez estremecer Portugal em poetas que a princípio se chamara Sá Miranda, Antonio Ferreira e Luiz de Camões. Na verdade, irradiou-se por todos os rincões onde se fala a língua de Don Diniz.
 
Assim, por via transversas, sem Petrarca não teríamos Camões, nem Bernardo Guimarães, nem Vinicius, nem Drumond
 
Petrarca, teve por musa Laura. Loura, de face cor de neve, de cabelos cacheados, olhos claros, rosto oval e muito bonito. Só que a conheceu casada. Os poetas românticos tinham paixões inatingíves. Na Idade Média, essas paixões direcionavam-se às mulheres casadas. Não se sabe se conviveu com Laura. Não se sabe se foi amor platônico ou carnal. A verdade é que a amou por vinte anos e depois que ela morre, sofreu por esse amor, mais vinte anos. Daí, toda a sua inspiração e a construção da teoriazação do amor, como sofrimento. É dessa época em diante que a poesia se ocupa do amor frustrado, não do amor realizado ou da felicidade no amor. Se ocupa até hoje (inclusive em letras de músicas populares) do amor que causa dor, sofrimento e tristeza e até a morte.
 
Veja este poema acerca da morte de Laura, como se ela pudesse reaparecer:
 
Morte, a mais bela face descoraste
E a vista mais formosa escureceste.
Mais sublimado espírito escolheste
E do corpo mais belo separaste.
 
Num momento o meu bem todo roubaste,
E o acento mais emoldurado emudeceste.
Quando eu vejo ou escuto é rude e agreste,
E cheio de lamento me deixaste.
 
Oh, torna a consolar tamanha dor,
Clara dama. E a piedade a reconduz
À alma que só por ela vive e espera
 
E se como ela fala ou como luz,
Dizer pudesse, acendera eu de amor,
Quanto peito existir de homem ou de fera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário